Você já imaginou um caminhão pesado parado no posto ao lado
de uma bomba de etanol, enchendo o tanque?
Pois é, isto já existe, a Scania apresentou na FENATRAN 2011
o primeiro caminhão movido a etanol. O objetivo desta iniciativa é a
preocupação de atender as novas leis de emissões e aprimorar o estudo de
combustíveis alternativos para motores a Diesel, assim como existe estudos
avançados com Gás Natural, a Scania vem pelo lado mais ambiental, com etanol.
Por mais que isso pareça estranho, o motor funciona, e
apenas com algumas modificações são necessárias, mas vamos comentar mais para frente.
Este estudo com motores movidos a etanol não é uma coisa
nova para a Scania. Na Suécia, mais precisamente em Estocolmo, na década de 80
em parceria com a prefeitura da cidade iniciou-se um projeto chamado BEST (Bioethanol sustentable transport)
que visa implantar ônibus urbano movido a etanol para reduzir a poluição na
cidade. Com resultados satisfatórios o projeto vem-se ampliando e já atinge
quase toda a Europa, Ásia e agora o Brasil, chegando a 600 ônibus sendo
avaliados e comparados desde o desempenho até a durabilidade com ônibus que
utilizam o Diesel como combustível. No Brasil o projeto BEST foi implementado
pela prefeitura de São Paulo, que hoje esta monitorando um ônibus que faz a
linha Jabaquara – São Mateus pelo sistema EMTU/SP.
Modificações no motor.
Primeiramente deve-se esclarecer que o etanol usado nos motores Diesel não é o mesmo usado nos automóveis convencionais, o etanol que esta nas bombas de todos os postos do Brasil é o E100, que significa 100% de etanol hidratado. Para o projeto BEST é utilizado o E95 (Etmax D), que reflete 95% de etanol hidratado e 5% de aditivos para prover lubricidade e aumento do número de cetano no etanol. Este combustível é fornecido somente pela empresa SEKAB que é sueca.
O etanol E100 não tem a característica de lubrificante, por conta disto são adicionados ésteres de cadeias longas para aumentar a lubrificação, e em relação ao número de cetano, que no E100 gira em torno de 5 à 15, são adicionados compostos nitrogenados, mas que não são suficientes para alcançar níveis de cetano encontrado no Diesel (45 à 55), por isso foi necessário fazer modificações no motor.
Características gerais do motor diesel movido a etanol aditivado.
Motor Scania DC9 E02
Combustível Etanol
Volume 8,9 litros
Sequência de ignição 1-2-4-5-3
Volume 8,9 litros
Sequência de ignição 1-2-4-5-3
Cilindros 5 em linha
Cabeçotes de cilindro 5
Válvulas por cilindro 4
Diâmetro x curso 127x140 mm
Taxa de compressão 28:1
Controle de injeção de combustível Scania PDE
Controle de emissões Proconve P7 Scania SCR/ EGR para ônibus
Potência máx. (270 hp) 228 kW a rpm 1900
Torque máx. 1.200 Nm a rpm 1100-1400
Frenagem máx. do motor 170 kW a rpm 2400
Cabeçotes de cilindro 5
Válvulas por cilindro 4
Diâmetro x curso 127x140 mm
Taxa de compressão 28:1
Controle de injeção de combustível Scania PDE
Controle de emissões Proconve P7 Scania SCR/ EGR para ônibus
Potência máx. (270 hp) 228 kW a rpm 1900
Torque máx. 1.200 Nm a rpm 1100-1400
Frenagem máx. do motor 170 kW a rpm 2400
A principal modificação esta na taxa de compressão, que primeiramente era de 22:1, mas com a chegada da nova lei de emissão Euro 5 ela passou a ser de 28:1, altíssima se compararmos com motores Diesel convencionais (18:1). Isso se deve ao baixo número de cetano do etanol, dificultando assim a auto ignição do combustível. Outras modificações são injetores e bomba de combustível com maior capacidade volumétrica, pois o etanol tem um menor poder calorifico se comparado com o Diesel, necessitando assim mais combustível para o motor produzir a mesma potência, esse aumento de volume é por volta de 60%, o que significa que para o ônibus percorrer uma distância utilizando 1 litro de Diesel é necessário de 1,6 a 1,7 litros de etanol para percorrer a mesma distância.
Outras modificações são um eixo balanceador, pois como são 5 cilindros é natural produzir muita vibração, e este eixo ajuda a destruir ondas de segunda ordem que provocam tais vibrações. E materiais resistentes à corrosão provocada pelo etanol.
Emissões
A razão para fabricar um motor Diesel movido a etanol são as emissões.
Estima-se que com o uso do etanol nos motores de ignição por compressão, há uma redução de 80% de CO2, pois não se trata de um combustível fóssil que contém grandes quantidades de carbono na sua composição química. Uma grande redução de CO e HC, pela mesma razão da redução de CO2. 90% a menos de material particulado (MP) pois além do atraso na ignição provocado pelo baixo número de cetano, a baixa temperatura e rápida combustão, há um injeção de hidrogênio na mistura, tudo isso diminui as emissões de fumaça preta e MP. E 62% de redução de NOx, pois como comentado, a baixa temperatura de combustão gerada pela vaporização do etanol, o atraso que ocorre na ignição, acontecendo mais próximo do PMS e a rápida combustão não disponibiliza tempo e temperatura suficiente para a formação do NOx. E ainda há um pequeno aumento no rendimento térmico do motor, por volta de 3%, pois com a rápida combustão (rápida se comparada com o Diesel) não há tempo do calor migrar para o liquido refrigerante.
Na tabela abaixo, pode-se observar os valores dos testes obtidos com motores PROCONVE 5, 6 e o motor DC9 E02 a etanol.
Emissões do motor ciclo diesel movido
a etanol aditivado
VALORES DE EMISSÃO
CO (g/kWh) HC(g/kWh) NOx (g/kWh) MP
(g/kWh)
Ensaio no motor (1) 0, 00 0,05 1,7 0,01
PROCONVE P-5(2) 2,1 0,66 5,0 0,10
PROCONVE P-6(3) 1,5 0,46 3,5 0,02
(1) Ensaio realizado em 13/09/2007, no
laboratório RDW, na Holanda
(2) Estabelecidos na Resolução Conama n.o 315/02, em vigor
desde 01/01/2006.
(3) Resolução Conama n.º 315/02, Art.15,
Tabela 1, linha 2, em vigor até 01/01/2009.
Pode-se observar que os valores obtidos com o motor movido a etanol, atinge-se além dos limites para EURO 5 mas também Euro 6 (PROCONVE 8), que estará em vigor na Europa a partir de 2014.
Consumo de combustível
O consumo de combustível do etanol, como todos sabemos, é mais elevado. No uso em motores ciclo Otto gira em torno de 30%, mas em motores por compressão esse aumento esta por volta de 60%. Mas o uso do etanol nos automóveis esta condicionada ao preço da gasolina e do etanol, por exemplo, se na bomba o preço do álcool estiver mais de 30% mais barato que a gasolina, a opção de uso é o álcool, se não é a gasolina.
Mas no caso deste motor da Scania, não há opção de uso de Diesel ou álcool, é somente o etanol. E tomando por base os preços dos dois combustível nos últimos anos, eles são parecidos, giram em torno de R$ 1,60 a 2,00, dependendo da região do país. O que leva a entender que o consumo operacional do veículo será por volta de 60% superior aos veículos exclusivos a Diesel. Isso sem levar em consideração o custo de manutenção.
Olhando somente para a manutenção, é preciso analisar que o etanol tem um poder corrosivo elevado, portanto o sistema de injeção de combustível terá uma atenção maior, além do óleo lubrificante, que tem uma contaminação maior se comparado com o uso do Diesel, os filtros terão uma frequência maior de trocas. Tudo isso eleva os custos de manutenção também. Podendo chegar ao dobro de um veículo a Diesel segundo a Scania.
Então olhando para este cenário, é difícil de acreditar que este projeto (BEST) esteja operando a mais de 20 anos e ampliando-se em todo o mundo. Mas a razão disto é simples, as prefeituras que adotam este projeto nos transportes públicos tem um acréscimo nos gastos neste setor, mas em contra partida, a redução dos gastos na saúde pública é significante, podendo até amortizar e superar os aumentos no transporte. Pois especialistas estimam que em uma frota de 15.000 ônibus (frota da cidade de São Paulo) rodando com o etanol E95, equivaleria ambientalmente, a uma frota de 3.000 ônibus a Diesel. E lembrando que por volta de 3 milhões de pessoas são internadas anualmente em hospitais decorrente de problemas relacionados a poluição dos centros metropolitanos, o que acarreta milhares de cifras gastas com este problema, então vale a pena investir em debates e discussões para melhorar ainda mais este tipo de iniciativa nos transportes públicos.
Mas pensar nesta alternativa para o transporte rodoviário, acredito que ainda é cedo achar que as grandes transportadoras e até mesmo os autônomos motoristas de caminhão irão absorver este aumento de gastos operacionais.